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“Será que sou eu que estou a enlouquecer?”, perguntava-se frequentemente a Cristina. Pequenas coisas desapareciam, objectos eram mudados de lugar, trabalhos sumiam e outras coisas apareciam onde não deviam estar. E sempre havia indicações ou “provas” de que tinha sido ela a fazer isso. Quando desapareceu um documento importante, que criou um enorme rebuliço e, dois dias mais tarde apareceu numa das gavetas da sua secretária, ela sentiu que foi a última gota.

 

“Mudaram a reunião para uma hora mais cedo e não me informaram. Quando cheguei estava a acabar.”

Apesar de continuar a ter um cargo de liderança (supostamente!), desde a última restruturação, o Paulo passa o dia inteiro sem fazer quase nada. As poucas tarefas que lhe dão, são muito inferiores às suas capacidades e, na maioria das vezes, não servem para nada. Ocultam-lhe informações ou dão-lhe dados desatualizados ou mesmo errados. Apesar de a sua presença, na realidade, ser inútil, há uma pressão constante para que ele cumpra o horário ao minuto.

Quando procurou ajuda, o Paulo estava num processo de depressão bastante grave.

 

A Marta é secretaria de direção. Com formação e capacidades que lhe permitiam ser mais do que isso, é alvo de frequente boicote por parte do chefe. Ele decide alterar um trabalho que ela acabou de fazer e exige que ela volte a fazer tudo do início, pede-lhe tarefas praticamente impossíveis e chama-lhe incapaz e pouco produtiva. Dez minutos antes da hora de ela sair pede-lhe para ela fazer um trabalho urgente mas que é obviamente inútil ou que no dia seguinte ainda está em cima da secretária.

 

O André vive num ritmo de trabalho alucinante. Pedem-lhe enormes quantidades de trabalho, com prazos praticamente impossíveis de cumprir, com exigências e detalhes que na prática não são realizáveis. Enquanto isso, os colegas têm um ritmo de trabalho bem mais relaxado, inclusive com tempo para irem tomar café ou fumar.

 

A Sofia vive num ambiente de implicância e críticas constantes. O seu trabalho tem sempre defeitos, mesmo quando ela tem consciência de que isso não é verdade. No seu local de trabalho é mantido um ambiente de hostilidade constante em relação a ela. Pior ainda é que, ao longo do tempo, os seus colegas vão sendo recrutados para esta guerrilha, de maneira que ela está praticamente isolada.

 

 

Muitas das vezes que entrava no trabalho, Elisa sentia os olhares dos outros sobre si; normalmente de reprovação, por vezes de gozo e escárnio. Ela sabia que havia “informações” acerca dela a serem passadas e comentadas por toda a gente. Por vezes, ela percebia o teor do “assunto do dia”, normalmente mentiras graves, ou alguma colega lhe contava o que tinha ouvido. Apesar da gravidade da situação, ela demorou bastante tempo a perceber que aquilo não era simples má-língua, mas algo intencional e desencadeado sempre pela mesma pessoa.

 

 

Os detalhes, numa situação de mobbing, podem ter aspectos muito variados e mesmo, como se vê nos casos que partilhei acima, haver situações que parecem ser o oposto de outras. No entanto, há sempre um alvo de destruição intencional e planeada na vida destas pessoas. Aquele que está por detrás destas atitudes é um agressor, com o mesmo tipo de perfil que podemos encontrar na violência doméstica ou no bullying.

 

Consequências

Este tipo de agressor tem uma intenção, e na maioria dos casos consegue levá-la a cabo. Uma das principais características na identificação destes casos, é o processo de desestruturação ou mesmo degradação em que a vítima se encontra. São sempre situações que provocam humilhação na pessoa, podendo rapidamente levar a um quadro depressivo grave. É criado um ambiente de confusão mental em que a vítima começa a já não ter bem a certeza do que se está a passar ou a não saber se determinadas afirmações ou “factos” são mesmo reais. Em muitos casos, o desgaste que esta situação provoca e a instabilidade e insegurança permanente em que a pessoa está, levam a uma perda progressiva das suas capacidades ou eficiência (agravada por estratégias de boicote, sabotagem, manipulação, etc).

Normalmente acaba por ir havendo uma perda de credibilidade progressiva da vítima desta situação, reforçada por pontos de ruptura e/ou baixa médica.

 

Violência pessoal é crime e é uma das situações mais destrutivas em que uma pessoa se pode ver envolvida. É, sem dúvida, uma situação de risco. Mas “ficar lá” não é a única opção. Aliás, essa nunca deveria ser a opção.

No próximo artigo vou falar um pouco acerca de como lidar com isto.