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Na violência doméstica há diferentes níveis de gravidade. É importante identificar o tipo de cada situação, não só para planear a forma de agir mas também para perceber (e prevenir) possíveis riscos.

 

O nível de crueldade do agressor tem consequências diretas em alguns aspectos:

  • A extensão da destruição interior — O impacto sobre a vítima não tem tanto a ver com a ação do agressor, mas com a crueldade que está por detrás dela. Um agressor mais cruel, consegue um impacto maior com um gesto mais “pequeno”.
  • A possibilidade de mudança — Nos níveis mais graves de agressão, não há mudança possível, não por incapacidade do agressor, mas porque ele não tem qualquer interesse nisso.
  • O risco — Este varia muito consoante o perfil do agressor.

 

Níveis de gravidade

Há mais de 3000 anos, o rei Salomão, no seu livro de Provérbios, faz uma análise do interior do ser humano, que eu considero a que nos ajuda a definir, de forma mais clara e prática, os níveis de gravidade em VD. O que ele refere não são as atitudes, mas principalmente o que está por detrás delas, a motivação do coração do agressor. Ele considera três níveis, aos quais ele chama o simples, o insensato e o perverso.

 

  1. Simples

Quer ter o que os outros têm. Característica principal — inveja.

Ele deseja e acha que merece o que os outros têm, e exige o que deseja. Ele exige satisfação imediata naquilo que quer. A inveja também se pode manifestar em relação a relacionamentos — ele inveja e ressente-se de que outros tenham relacionamentos mais significativos ou interessantes do que ele. Odeia tudo o que os outros têm ou conseguem.

Ele ignora os sinais que o podem alertar de perigo, tendo uma propensão para caminhar para o perigo e fazer asneira.

 

  1. Insensato

Quer que o adorem e lhe obedeçam. Característica principal — ira.

Ele é arrogante e centrado em si próprio. Usa a arrogância para esconder a sua imensa fragilidade. O que o “enche” é o som da sua própria voz. Os seus momentos de ira são intensos e intimidantes. A sua ira é sempre mais intensa do que seria apropriado, como uma luta que só está à espera de um pretexto para explodir. É uma ira quente, que vem depressa e passa depressa. Impulsivo e sem grande auto-controlo. Usa a sua ira para intimidar e exigir. É repetitivo, capaz de pedir perdão pelo mesmo erro vezes sem conta e voltar sempre a fazer o mesmo.

 

  1. Perverso

Quer escravizar e destruir. Característica principal — frieza e crueldade.

Mantém a sua vítima num estado de terror permanente. Ele não “sente” a dor do outro, mas tem uma percepção acima da média dessa dor, usando essa percepção para ferir com mais intensidade e nos pontos de maior vulnerabilidade da pessoa.

Adora armar-se em “psiquiatra amador”, comentando as intenções, motivações e fragilidades dos outros, fazendo observações incisivas e mostrando a facilidade que realmente tem em “ler” o interior dos outros. E usa esse insight para agir de forma mais destrutiva e devastadora. Quando tem a intenção de ferir alguém, ele vai conseguir.

A sua capacidade de não sentir, permite-lhe fazer o que quer, com a intensidade que quer e quando quer. Por exemplo, ele pode fazer cenas terríveis, em que parece ter perdido completamente o controlo de si próprio e, perante uma interrupção (como o toque do telefone), ele pára a gritaria sem qualquer esforço e coloca a sua máscara de simpático, divertido ou o que melhor se adaptar à situação. Ele é o ator perfeito, estando a tempo inteiro a ludibriar os outros, mudando de papel de forma instantânea e sem qualquer dificuldade. A sua ira é fria, cruel, intencional e completamente controlada, mesmo quando ele parece estar “de cabeça perdida”. Ele não perde o controlo de si próprio, mas consegue fazer com que os outros acreditem que sim.

É capaz de fazer longos discursos, que podem demorar horas, acerca dos erros da sua vítima. Intolerante em relação a outros pontos de vista, mostra um ódio implacável e frio para com aqueles que lhe resistem ou não satisfazem os seus desejos. É especialista em fazer com que a sua vítima se sinta a causadora ou mesmo a autora do abuso. Não tem vergonha, consciência nem limites morais. Cria um ambiente de “segue-me ou estás perdido”. Exige entrega e devoção total da sua vítima. Usa a vergonha e o escárnio para trespassar até às partes mais frágeis do nosso coração.

Sendo enganadoramente subtil, ele desenvolve uma imagem de bondade, gentileza, generosidade, que enreda a sua vítima mais profundamente na sua teia. E usa esta aparente dualidade, entre o monstro e o maravilhoso, como uma das estratégias mais eficazes para levar a sua vítima a um estado de confusão e desorganização mental, que irá reduzir muito a sua capacidade de tomar alguma atitude para se libertar.

 

História da Maria — A mesma história, realidades muito diferentes.

“O João agride violentamente a Maria. Mais tarde pede-lhe perdão e promete nunca mais fazer aquilo. Passado pouco tempo a situação repete-se.”

Esta cena pode ter exatamente o mesmo aspecto, nos vários tipos de agressor, mas a realidade em que essas vítimas vivem é radicalmente diferente.

INSENSATO — Se o João pertence a este “nível”, ele realmente teve um ataque de fúria. Por alguma coisa que a Maria fez, ou apenas porque ele já estava chateado e descarregou em cima dela, ele perdeu a cabeça e fez uma cena de todo o tamanho. Depois “caiu em si” e percebeu que fez asneira. Pede-lhe perdão e decide não voltar a fazer aquilo. Claro que na próxima oportunidade, ele volta a perder a cabeça e a repetir tudo.

PERVERSO — Neste nível, o João não perde a cabeça. Ele apenas “decide” fazer uma cena devastadora, para aterrorizar, controlar e esvaziar ainda mais a sua vítima. A seguir, ele coloca a outra máscara, do arrependido, podendo até chorar e mostrar uma dor profunda de remorso pelo sofrimento que lhe provocou. Mas tudo isso é uma encenação, uma estratégia para ela continuar a acreditar nele, para continuar a acreditar que ele a ama e não tem intenção de lhe fazer mal, levando-a a baixar a guarda. Então, quando vê que ela está mais vulnerável, volta a atacar, com crueldade redobrada.

 

Conheces estas características? Seja na tua própria vida ou na de alguém próximo, tu podes começar a fazer a diferença.

Calar e permitir, não deveria nunca ser a opção!