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Violência doméstica, mesmo que “apenas” psicológica, é uma situação de risco. Qualquer mudança que queiras começar a implementar, precisa de ser feita com cuidado e de forma a não desencadear alguma atitude mais violenta por parte do/a teu companheiro/a.

As sugestões que eu partilho neste artigo, são apenas mudanças “leves”. No entanto, devem ser colocadas em prática de forma planeada, com bom senso e não no impulso das emoções; tenta mudar uma pequena coisa de cada vez.

Acima de tudo, não confrontes o teu agressor. Cada vez que o confrontas, estás a dar-lhe o pretexto para ter alguma atitude mais grave, em “auto-defesa”.

E, obviamente, não lhe digas que vais mudar a situação, ou que o vais impedir seja do que for; não lhe digas detalhes do que estás a mudar. Age discretamente e mantém-te o mais fora de risco possível. Esse deve ser o principal foco neste processo de mudança – gerir os riscos, de forma a não levar a um agravar da situação.

 

Percebe que permitir atitudes abusivas, apenas vai trazer mais agressão sobre ti e sobre outros. O agressor não muda. É a vítima quem pode desenvolver a capacidade de começar a mudar a sua situação.

 

Apoio social

O maior factor de poder do teu agressor sobre ti, é a sua camuflagem, o segredo em que a situação se mantém, a tua vergonha e medo e, principalmente, o facto de estares sozinho/a nessa situação, de ninguém saber o que estás a passar. Ele vai provocando e aumentando esse teu isolamento, porque é muito mais fácil maltratar alguém que está sozinho.

Mas tu podes começar a reduzir esse poder!

Para isso, precisas de começar a inverter esse isolamento social. Então, recupera as amizades antigas, o contacto com a tua família. Mesmo que não te apeteça, empenha-te em estar ou falar regularmente com outras pessoas, em fazer em conjunto coisas normais, do “mundo dos vivos”. O agressor desenvolve pequenos detalhes que tornam qualquer interação um pouco desconfortável ou embaraçosa (isso é uma estratégia que ele usa para te levar a afastares-te dos outros, sem precisar de te dizer isso abertamente). Então, tenta começar a fazer e agir de forma “normal”, principalmente quando não estás com ele.

Não pactues com o segredo! Mas tem cuidado com quem falas. É muito importante haver pessoas próximas de ti que sabem o que se passa, mas deves ser cauteloso/a na escolha dessas pessoas. Tem especial cuidado com a proximidade com alguém do sexo oposto, que pode acabar por trazer outros problemas.

 

Autonomia

A tua autonomia é uma das áreas-chave em que precisas de investir. Procura não ser dependente do teu companheiro, tanto na área financeira como noutras áreas. Os agressores tendem a estimular a dependência da sua vítima, pois assim será muito mais difícil ela conseguir libertar-se dele.

Não deixes que ele vá atrofiando as tuas capacidades mentais. Aumenta essas capacidades. Estuda, aprende novas coisas. Envolve-te em atividades, mesmo que sejam de voluntariado.

 

Fortalecimento físico

O agressor suga e devora a tua alma, a tua energia, a tua capacidade. Antes de entrares num processo de mudança da situação, precisas de recuperar a tua energia. Lembra-te que um soldado, antes de ir para a guerra, passa por um tempo de treino e fortalecimento. Mudar uma situação de VD é uma guerra terrível.

Antes de entrares no “campo de batalha”, precisas de te preparar, para lidares de forma mais intencional, pró-ativa mas discreta.

Começa a fazer regularmente exercício físico. Pode ser algo tão simples como caminhar. Mas faz isso de forma sistemática, intencional e regular. Isso vai aumentar a tua força física e ajudar-te a lidar melhor com as tuas emoções.

 

Fortalecimento mental

Para poderes pensar, definir, decidir, precisas de sair do poder maléfico que o agressor tem sobre a tua mente.

Procura aumentar a tua capacidade mental. Lê, estuda, mantém-te informado/a. Ouve opiniões de outras pessoas acerca de temas variados e partilha as tuas próprias opiniões. Mantém a tua mente ativa, “viva” e fora do poder manipulativo do teu agressor.

 

Fortalecimento emocional

Se vives numa situação de pressão psicológica, as tuas emoções estão particularmente frágeis, com muito maior tendência para as negativas, como angústia, medo, ansiedade, etc. Sabes como é fácil o teu agressor, com um simples gesto, palavra ou olhar, deixar-te devastada e (mais uma vez!) convencida de que nunca conseguirás libertar-te dele. Precisas de deitar fora essa mentira (entre muitas outras…).

Para fortaleceres os teus “músculos emocionais”, precisas de treinar a passar tempo no positivo. Não conseguirás sentir emoções positivas, mas podes treinar a usufruir das pequenas coisas, ao nível dos sentidos; coisas tão simples, como sentires o calor do sol na pele, o sabor dos alimentos, os cheiros que gostas, os sons, … não porque a tua vida esteja fácil ou porque queres enterrar a cabeça na areia, mas porque estás determinada a mudá-la; e para isso é fundamental as tuas emoções estarem muito mais fortes, positivas e estáveis.

Este tipo de usufruir vai, entre outras coisas, reduzir o teu cortisol e começar a aumentar a tua produção de hormonas positivas, que vão ajudar-te a sentir e funcionar melhor.

 

Evita

Neste artigo não vou partilhar estratégias de “impedir”, porque essas têm que ser sempre planeadas de forma bastante específica para cada situação, num processo passo a passo e com muito cuidado na gestão de riscos. Um agressor é SEMPRE uma pessoa potencialmente perigosa. Repara que a maioria das situações de morte, são provocadas por alguém de quem ninguém esperaria isso. Então, não te coloques em risco.

Mas há muito que podes fazer para “evitar” ou reduzir as cenas. Evita as situações que já sabes que vão trazer agressão. Não entres em discussão com o teu agressor. Não tentes que ele compreenda o teu ponto de vista… isso não vai acontecer! Estarás simplesmente a entrar no jogo dele, e no qual ele é perito. Treina a ficar fora do seu alcance. O foco não é defenderes-te, mas ires desenvolvendo a capacidade de não “estar a jeito”.

Não acredites que a culpa é tua… mas podes tornar-te muito mais habilidosa/o em evitar a agressão.

 

Como gerir os filhos?

Educar filhos num ambiente onde reina o desrespeito e o abuso é terrível, eu sei. Mas não te deixes esmagar por esse peso. Há muito que podes fazer para reduzir esse impacto na vida deles.

O teu alvo não deve ser “compensá-los”, paparicá-los, permitir-lhes tudo o que o pai (ou mãe) não permite. Esse ambiente de extremos, vai desenvolver neles uma mente disfuncional que, mais tarde, acaba por trazer mais problemas.

Então, sugiro que invistas em duas áreas principais:

  • A tua relação com eles – Empenha-te em criar um bom relacionamento com eles, com comunicação aberta e positiva (não rígida mas também não permissiva). Façam coisas agradáveis em conjunto; cria momentos juntos que sejam mesmo gostosos. Usa a criatividade. Podem ser coisas muito simples, mas que vão estreitar os laços entre vocês e criar uma pausa no ambiente opressivo de casa (depois, procura não comentar com o pai o tempo maravilhoso que tiveram… sem ele!)
  • Desenvolvimento de carácter – Num ambiente onde este não existe, é especialmente importante planeares e empenhares-te em o desenvolveres nos teus filhos. Ajuda-os a pensar com a sua própria cabeça, a perceber o que faz sentido (em vez de dizeres que o que o pai disse é errado, por exemplo). Não lhes faças queixas do pai, não os cries nesse negativismo. Isso não os vai ajudar a “abrir os olhos”, mas a desenvolver raiva e azedume que, mais tarde, vão destruir a sua vida. O que tu queres, não é chamar a atenção para essa realidade, mas “apagar” essas marcas do seu temperamento. Então, incentiva-os a, eles próprios, não terem atitudes agressivas, a conseguirem expressar o que querem ou pensam, com respeito.

 

Sair de uma situação de violência doméstica não é fácil, mas é possível. Seja qual for a gravidade da tua situação, há um caminho de saída. O processo parece demasiado doloroso, arriscado, incerto… mas se decidires fazê-lo, um dia estarás livre do teu agressor.

Essa “saída” não tem que ser necessariamente o divórcio; alguns agressores são mudáveis (podes ver isso no artigo 4/8 desta série). E tu podes aprender a influenciar e mudar a situação da tua família.

 

Na LisboaCounselling podes encontrar ajuda especializada para te ajudar a mudar a tua vida, passo a passo, de forma planeada e sem correr riscos.

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Ser um agressor é uma opção.

Ser vítima também.